Compartilhe e Siga-nos!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AO SETE DE SETEMBRO, NO DIA OITO


Eu sei que hoje é oito de setembro, e todo aquele glamour do Sete de Setembro já se foi, mas vou contar aqui um ato meu de manifestação. Rebeldia política contra esta ponta da pirâmide que todos criticam, tentam derrubar e no fim só querem um lugarzinho lá em cima.
Era um sete de setembro de algum ano destes aí! Eu estava novo. É, bem mais novo, um adolescente. E resolvi fazer parte do “Gritos dos Excluídos”, que acontece (ou acontecia, nem sei mais) atrás do desfile original, na Avenida Presidente Vargas, aqui no Rio. As pessoas protestavam contra a polícia, contra a política de roubalheira, contra o fim do passe livre, contra alguma coisa que pra elas estava errado, e no fim, era uma miscelânea de gente insatisfeita. No meio daquele povão, eu, assim como muitos caras pintadas, nem sabia o que estava fazendo. Quando estava gritando “fora alguma coisa” enquanto queimavam uma placa com nomes, ouvi alguém dizer: “Vamos virar o carro!” Sim, tinha um carro da polícia parado impedindo a movimentação, e como todos estavam bem alterados, alguém teve a idéia de virá-lo. Era um Gol, daqueles pequenos, que certamente umas dez cabeças conseguem virar facilmente! E vi as pessoas ao meu lado irem em sua direção, então fui, como um belo atuante no meio da massa. Corremos para ele, que estava vazio, lógico! Pois não somos burros! E com toda força bati de ombros nele e coloquei minha mão por baixo, fazendo a maior força do mundo. Na hora não reparei, pois estava de olhos fechados, buscando força interior, mas os carinhas que mais gritavam já haviam parado no meio do caminho, resultando somente na minha pessoa branca e aparentemente atordoada por alguma substância química ou alucinógena, para querer levantar um carro com as mãos. Quando me dei contas, olhei somente o pé calçado do policial me encarando.
— O que você pensa que está fazendo, Superman?




Eu não tive uma resposta para ele, que esboçou um sorriso de incredulidade no rosto.
Ele me segurou pelo braço, colocou-me dentro da viatura com outro policial e me levou para o batalhão.
Eu nem fiquei com medo.
— Que merda, vou morrer!
Eles me levaram para uma sala grande, a da recepção, e me apresentaram para o delegado:
— Aí, Silveira, este aqui é o Superman!
— Supermam? — o sujeito troncudo me olhou por cima dos bigodes, parecendo uma lontra e continuou. — Como assim, que história é essa?
— Ele tava sozinho tentando levantar a viatura da gente no meio da passeata lá!

Eu só fiquei desejando não ser fichado, estava quase me formando, não podia me sujar assim! Ainda não tinha direito a uma cela especial!
Eles ficaram rindo, chamaram quase todos que trabalhavam para me apresentar, até a faxineira! Por fim me deixaram duas horas lá aguardando.
— Poxa, se o senhor não vai me fichar ou prender, eu não posso ir embora? – perguntei.
— Pra que? Vai que você volta pra lá e desta vez tenta virar um ônibus?
Começaram a rir. E terminou assim. Para a minha sorte, toda vez que passava por lá para trabalhar, sempre um engraçadinho gritava:
— Vai, Superman! Vira um carro não, hein!
Ou ainda:
— Cadê a cueca por cima da calça?

E fiquei conhecido assim, como Superman, por aquele batalhão durante anos trabalhando lá perto e passando em frente a ele todos os dias!

2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe nas Redes Sociais