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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MEU NOME É LUCAS PARTE III



O levei para a parte de trás do inferninho. A parte onde ninguém utiliza, somente as prostitutas para saírem sem que as vejam, ou chegarem. Estava vazio, ninguém mais chegaria para trabalhar ou iria embora. O meu carro estava bem estacionado próximo ao muro de uma empresa deserta. Não tinha câmeras nos portões, isso já havia checado. Estava com o caminho livre para mim e o meu mais breve amigo. O carreguei como quem carrega um amigo muito bêbado até o meu carro. Algumas pessoas passavam ao longe, mas nada que me impedisse. Abri o porta-malas com uma das mãos e o empurrei para dentro. Ele ainda tentou algum movimento, mas logo ficou parado. Era assim que eu o queria naquele momento. Após bater o porta-malas voltei para a entrada secreta e desci a escada por onde havia subido acompanhado. Precisavam me ver. Avisei que não poderia demorar, bati boca com o cafetão pelo dinheiro, já que a garota dele não se recuperaria tão rápido, mas como previsível, ele não devolveu. Sai demonstrando está insatisfeito e fui embora. Caminhei um pouco para dar a volta, e depois andei mais rápido que o normal. Não poderia deixar o Cabeça me esperando. Puxei a chave do carro já próximo a porta, passei um ultimo olhar sobre o porta-malas e entrei. Liguei o carro e sai daquele lugar nojento.
A noite no Rio de janeiro por incrível que pareça em alguns lugares é mais tranqüilo que de dia, mas para mim não. O que deixa as noites calmas são as inúmeras blitz pela cidade. Nem todas são oficiais, muitas delas são policiais tirando seu ganha pão à mais. Estas são fáceis, mas com um corpo vivo no porta-malas não poderia arriscar, então já procurava saber onde estariam. O percurso era sempre mais longo, o que me irritava, não talvez quem estivesse lá atrás. Depois de alguns minutos andando pela cidade fui para uma das favelas mais desertas que conheço. Entrei, e fui para onde não tinha casa. Era o lugar. Eu não tenho um quarto preparado, nem ferramentas específicas para este tipo de coisa, apenas meu carro branco, e a mim. Isso nunca havia sido problema, pois o que mais tem no Rio, são mortes. E muitas delas nem passam pelos dados oficiais. Mais uma coisa que me ajuda também. Mas o Cabeça não iria morrer assim, tão comum. Ele faria uma passagem diferente.
Quando sai do carro, não demorei para abrir o porta-malas. Ele poderia ser claustrofóbico. Não foi para minha surpresa, mas quando a porta se abriu, ele estava já acordado, mas ainda sem força para tentar fugir.
— Mas que porra é essa? — Perguntou com uma mão na cabeça e os olhos se fechando pela luz fraca do poste que oscilava.
— Sai do carro! — Eu mandei.
Ele não conseguiu, mas o ajudei. Ele tentou ficar de pé, mas logo caiu de joelhos. O grande Cabeça, assim de joelhos, como queria ver isso. Ele só xingava, resmungava, mas parecia que a própria voz o irritava, porque falava como se sentisse dor ao ouvi-la.
— Quem é você, o filho da puta?
Ele xingou mais uma vez. Eu apenas fiquei encarando, uns breves segundos que deveria saborear. Aí então andei até ele. Ele tentou sair da minha frente, mas estava muito tonto para isso. Peguei um colete que estava no chão, perto de um monte de lixo e o vesti. Ele apenas perguntava e xingava, estava me deixando chateado. Ele não tinha para onde ir, atrás dele tinha a Baía de Guanabara toda. Não iria arriscar vir na minha frente, não daquele estado. Aceitou na boa o colete sem ao menos perceber que estava preso a um cabo de aço que vinha direto de uma ponte e descia dela para a água poluída e escura.
— Quem é você? Acha que vai fazer o que?
Eu não achava. Iria fazer.
— Você matou gente demais. Muitas pessoas morreram por sua causa. — eu disse. — Mas agora, cadê o seu poder? Respeito? Cadê os seus súditos?
— Vacilão, você acha que vai me ferrar? — sua ultima pergunta — Se fizer alguma coisa comigo, eu te acho!
— Você por acaso tem mergulhadores?
Cortei a corda ao lado que ele não havia reparado. Do alto da ponte, um grande emaranhado de ferro pesado caiu na água. Antes que pudesse se virar para ver o que era ele foi puxado para a água. Não conseguiu gritar, talvez pelo susto, ou medo mesmo, mas ele sumiu antes que eu pudesse dar um passo a frente para vê-lo. Quem iria imaginar, o Cabeça no fundo da Bahia de Guanabara? Eu iria. Estava feito. Naquela noite eu poderia descansar. E o fiz, até pegar o carro e voltar para meu apartamento. No caminho, vi um grande congestionamento, e um bando de homens armados parando uma das principais vias da cidade para fazer um arrastão. Foi aí que conheci o mais novo predador. Na frente, com granadas na cintura, pistolas no cinto e um fuzil na mão. Meus olhos ficaram somente nele. Passou por mim e não fez nada, esta é a vantagem de se ter um Logus 96. Mas a forma como agredia as outras pessoas e como jogou uma mulher para fora do carro a socos e chutes o deixaram com um ar mais interessante. Logo foram embora levando alguns carros e pertences. Eu fui para o meu apartamento, mas não iria descansar. Teria de pensar em como encontrar aquele animal. Sabia de qual favela, pois pude ver onde seu bando entrou, só teria de entrar lá para buscá-lo.
E aqui estou. De frente com ele, em seu território. Paulo Henrique da Silva Corrêa. Vulgarmente conhecido como Corrente. Vinte e cinco anos, gerente da boca de fumo há dois, chefe de bonde há um ano. Ele adora garotas novas, fumar maconha e esbanjar confiança. Não é tão amado quanto o Cabeça, mas isto não será um problema. Terei de ser breve, ele não sai muito daqui. O garoto magricelo que havia pego o dinheiro volta com uma quentinha. Ele pega e ainda molhado com a mangueira no seu colo abre faminto e dar a primeira garfada. A cerveja estava já ao seu lado. O sol lhe iluminando, e suas armas a mostra. Quem ousaria qualquer coisa? Eu só tinha de esperar um pouco. Hoje ficaria só, aqui não tem muitos riscos de invasão ou da polícia, e quando se ausentasse, que não demoraria muito, eu agiria.

Um comentário:

  1. Vou ficar esperando as outras partes desta história... ta interessante... Muito bom os três textos.

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